20 de Novembro Dia da Consciência Negra
Zumbi é o maior símbolo de luta e de liberdade, resistiu durante boa parte da sua vida ao colonialismo no Brasil, tinha a consciência de um homem livre, que contrariava os interesses dos escravocratas. Nasceu livre, em 1655, na então Capitania de Pernambuco, na Serra da Barriga, região hoje pertencente ao município de União dos Palmares, no estado de Alagoas. Foi capturado e entregue a um missionário português, ainda criança. Batizado como Francisco, Zumbi recebeu a formação religiosa católica, aprendeu português e latim e ajudava diariamente na celebração da missa, passando por um processo de imposição de mudança cultural. Apesar de várias tentativas de aculturá-lo, Zumbi escapou em 1670, com 15 anos e retornou à Palmares. Ocorrida na Capitania de Pernambuco, no atual estado de Alagoas, a Guerra dos Palmares foi uma longa tentativa da Coroa Portuguesa de acabar com a sociedade rebelde que se formava na região, em meados no século XVII, contra o sistema escravista. O Quilombo dos Palmares foi fundado na intenção de construir uma sociedade longe do poder dos senhores de engenho, especialmente do trabalho no cultivo do açúcar, o principal produto da economia da colônia no período. Assim, escravizados nas fazendas rebelaram-se e, em fuga, buscaram novas formas de vida, libertando-se do trabalho compulsório e da escravidão. Inicialmente o Quilombo foi formado por africanos, especialmente vindos do Congo e de Angola. O número de escravizados vindos de Angola era tanto que ficou conhecido também como Refúgio de Angola Janga – a pequena Angola na América Portuguesa. A vida comunitária nos quilombos era bastante organizada, com regras administrativas, leis e governo próprios. Para a Coroa Portuguesa, o Quilombo dos Palmares caracterizava-se como uma “República”, o que para o período significava um espaço de autonomia. Palmares chegou a abrigar aproximadamente vinte mil habitantes, um número bastante expressivo. Os quilombolas estimulavam a fuga em massa dos engenhos e travavam comércio com as vilas mais próximas. Tudo isso em forma de resistência e sobrevivência. Ao chegar no Quilombo dos Palmares, com o território onde hoje existe a cidade de União dos Palmares, em Alagoas, o jovem recebeu um novo nome: Zumbi. Zumbi representa, para os imbagalas da Angola, aquele que morreu e voltou a viver, como a própria identidade do jovem. Zumbi se tornou conhecido pela sua destreza e astúcia na luta e já era um estrategista militar respeitável quando chegou aos vinte anos. O primeiro grande confronto de Zumbi ocorreu um 1675, quando o Quilombo dos Palmares foi atacado pelos soldados portugueses. Na ocasião onde os soldados foram derrotados, retirando-se para Recife, o jovem foi reconhecido como um grande combatente. Durante todo o século XVII Palmares sofreu com as investidas da Coroa. Em 1612 conheceu a primeira expedição e somente em 1695, com a morte de Zumbi, a última aconteceu. Cresce assim a fama de Palmares na América Portuguesa e, com isso, expedições, ataques, fim das relações comerciais começam a ser fomentados pela Coroa. Mesmo não conseguindo conter o crescimento do Quilombo provocam pisões internas nas lideranças. Em 1678 um acordo de paz é proposto e portugueses e rebeldes, liderados então por Ganga Zumba – nascido no Congo e primeiro líder de Palmares – encontram-se. Com o acordo, escravizados fugidos deveriam ser devolvidos à Coroa (menos os já nascidos no Quilombo) e, em contrapartida, Portugal garantia alforria e terras aos habitantes de Palmares. O acordo de Paz, aceito por Ganga Zumba, opôs este a Zumbi e Dandara, anulando a unidade na sociedade quilombola. Ganga Zumba é envenenado e após o acontecido Zumbi lidera a guerra contra a Coroa e garante autonomia e liberdade. O fim da guerra chefiada por Zumbi tem um fim trágico. Em 1694, com a queda da Cerca Real do Macaco (Capital de Palmares) tem-se a derrota e destruição de Palmares, bem como o suicídio de Dandara, liderança feminina que preferiu a guerra constante e a morte que a volta à escravidão. Seu lugar de protagonismo nesta história é comumente negligenciado, mas é preciso atribuir à Dandara sua importância na luta pela liberdade e contra a escravidão. Palmares é símbolo da luta negra e da resistência, durou cerca de 140 anos. Seus personagens não foram apenas vítimas passivas mas agentes da história de combate e luta pela liberdade. Zumbi tem sua morte em 20 de novembro de 1695 e a data foi escolhida pelo Movimento Negro em contraposição ao 13 de maio (dia da suposta abolição da escravatura) e instituída em 1995 em homenagem a Zumbi – como Dia da Consciência Negra. Mais de três séculos após a sua morte, constata-se que o racismo não deixou de existir, ou de se manifestar cruelmente. Na verdade, a opressão de cor somente modernizou-se, assim como a sociedade da opressão modernizou suas formas de dominação durante os anos. Ao longo dos 22 anos que foi instituída a data do Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, nós brasileiros, não chegamos a um consenso do significado e da importância da história desse líder e de sua representatividade para toda a população brasileira, bem como os desdobramentos da sua luta e resistência do povo negro, no decorrer desse tempo, que os movimentos sociais e especificamente o movimento negro foram construindo e conquistando para toda a sociedade, destacando as ações afirmativas. Para nos tornarmos uma sociedade civilizada, como é o desejo da maioria, e termos um reconhecimento universal, primeiramente temos que conhecer a nossa verdadeira história, independente do que nos afeta e da relação direta que temos com o fato acontecido, no caso a escravidão. Assim como a sociedade americana, que reconheceu o seu líder negro do século 20, Martin Luther King, e decretou feriado nacional, sempre comemorado na terceira segunda-feira de janeiro, um dos três feriados nacionais dos Estados Unidos em comemoração a uma pessoa, podemos também instituir o feriado do Dia da Consciência Negra com feriado nacional. Assim ao longo do tempo conquistaremos em um processo evolutivo a abrangência das ações afirmativas em todos os setores produtivos: meios de comunicação, nas artes, nas ciências, no esporte e na academia, e esse resultado será positivo para toda a sociedade, mas isso não garante a extinção do racismo, que é inerente a sociedade, no entanto, fortalece os canais institucionais para a garantia de direitos civis. Conselho Estadual dos Direitos dos Refugiados, Migrantes e Apátridas do Paraná Texto: Isidoro Diniz - Conselheiro do CERMA Kátia Drumond - Jornalista Fonte: https://www.infoescola.com/ http://voupassar.club/historia/ https://www.geledes.org.br/