4ª Jornada Gaúcha de Adoção e Acolhimento: segundo dia de debates abordou a proteção da infância em crises climáticas
O último dia da 4ª Jornada Gaúcha de Adoção e Acolhimento encerrou-se nesta sexta-feira, 11/10, abordando as consequências das enchentes que atingiram a região em maio deste ano, trazendo um cenário devastador para muitas comunidades e, em especial, para as crianças em situação de vulnerabilidade. O evento contou com a participação das juízas Débora Gerhardt de Marque e Larissa Moraes de Morais , além do promotor João Paulo Fontoura de Medeiros , que compartilharam suas experiências à frente de suas respectivas comarcas e municípios vizinhos durante e após o evento climático.
Os palestrantes reforçaram a importância da colaboração e do fortalecimento das redes de apoio a crianças, adolescentes e seus familiares, especialmente em momentos de calamidade. Os relatos apresentados destacaram a necessidade de estratégias mais eficazes e coordenadas para lidar com emergências climáticas, bem como a importância de projetos comunitários de reconstrução e suporte às famílias afetadas.
A mediadora foi a juíza do 2º Juizado Regional da Infância e Juventude de Porto Alegre, Tânia da Rosa. A magistrada fez uma reflexão sobre a magnitude do desastre natural ocorrido e seus impactos de longo prazo. “Trata-se de um assunto tão importante e atual que enfrentamos recentemente. Parece que aconteceu ontem, mas permanece em nossa memória de forma indelével, evidenciando a desproteção da infância". Destacou também o impacto das enchentes na capital, que dobrou o número de acolhidos após o evento, passando de 80 para 164 crianças em situação de acolhimento. "O poder público tem o dever de tentar minimizar os efeitos do evento e dar o apoio necessário para que as crianças retornem às suas famílias".
A primeira a falar foi a juíza da Vara de Infância da Comarca de Lajeado, Débora Gerhardt de Marque, que trouxe um panorama detalhado dos impactos das enchentes em sua comarca, incluindo dados estatísticos sobre o número de desabrigados, mortos e os efeitos psicológicos sofridos pela população. Ela destacou a perda da infraestrutura essencial, como a ponte sobre o Rio Taquari, responsável por 70% da logística estadual, e as dificuldades trazidas pelos deslizamentos e interrupções de serviços básicos, como energia e internet.
A magistrada chamou a atenção para a gravidade da situação atual. "Estamos no limite da nossa capacidade, enfrentando um número recorde de crianças, muitos casos graves e situações extremamente delicadas. As crianças que estavam nas instituições de acolhimento antes das enchentes agora enfrentam um cenário crítico", disse Débora Gerhardt. Ela citou o trabalho coletivo na região, que está resultando na construção de uma nova escola. "Precisamos construir 'pontes', no sentido literal e figurado. Um exemplo disso é a construção de uma nova escola, que será inaugurada em novembro, e que vai resolver a nossa questão com as creches. Além disso, pessoas da comunidade doaram uma pracinha e uma quadra de esportes. O esforço coletivo trouxe esperança para a região”, celebrou.
A segunda painelista a falar foi a Juíza da Comarca de São Leopoldo Larissa Moraes de Morais, que descreveu o caos vivido no município. “São Leopoldo conta com 238 mil habitantes, dos quais 180 mil foram atingidos, sendo que 100 mil ficaram desabrigados. Isso significa que 75% da população foi afetada, o que é extremamente crítico".
Segundo ela, cerca de 130 alojamentos temporários foram montados para atender persos públicos, como crianças e idosos. Diante dessa situação, a Juíza lembrou que a cidade não estava preparada com um plano de contingência adequado. A ajuda veio principalmente de voluntários, que organizaram esforços, incluindo a criação de um alojamento específico para crianças autistas, dada a necessidade de um ambiente mais controlado e silencioso para elas. A magistrada também elogiou o Ministério Público, que teve um papel fundamental na logística, com promotoras locais coordenando ações de acolhimento. Além disso, ela mencionou que 11 municípios vizinhos acolheram moradores de São Leopoldo, o que dificultou o reencontro de famílias. A comunicação se deu, principalmente, por meio de grupos de WhatsApp, que ajudaram na localização da população deslocada.
Encerrando o evento, o Promotor de Justiça da Comarca de Canoas João Paulo Fontoura de Medeiros também compartilhou sua vivência durante o pico da calamidade, ressaltando a dificuldade de mapear as áreas mais afetadas e organizar o resgate das vítimas. Ele mencionou o uso de georreferenciamento para localizar os desabrigados e a realização de operações contínuas de resgate em meio a um cenário de destruição rápida e imprevisível. O Promotor enfatizou a importância da cooperação entre equipes de diferentes setores, que foi fundamental para enfrentar a complexidade e a velocidade com que os problemas surgiam.