Desembargador João Luís Manassés de Albuquerque
DESEMBARGADOR JOÃO LUÍS MANASSÉS DE ALBUQUERQUE
Por Desembargador Robson Marques Cury
06/12/2021
Atualizado há 794 dias
Luciano, seu filho primogênito, também magistrado, aceitou meu convite para relembrar passagem da vida profissional de seu pai:
"Penso que o período que moramos no interior foi um dos mais felizes de nossa vida familiar e da carreira de meu pai. Para mim, crescer jogando bola na rua com os amigos, sem as preocupações da cidade grande, é uma lembrança muito viva e feliz.
Mas para meu pai também. Fez grandes amigos no interior, que ainda cultiva. Se interessava pela vida da sociedade e desta participava ativamente. Com ele, aprendi que o magistrado não precisa se tornar recluso no Fórum para permanecer imparcial. A comunidade aprende a respeitar e a admirar mesmo sem o isolamento.
O trabalho na época era muito artesanal, sem qualquer assessoria. Sentenças datilografadas, com cópias feitas com carbono e papel manteiga, que permaneciam arquivadas em cartório.
Tanto no interior como na capital, mesmo tendo sido um magistrado muito dedicado, sempre arrumou tempo para uma de suas grandes paixões: o futebol. O amigo “Mana”, sempre reclamando de não receber a bola, fazendo seus gols de cabeça, rindo das brincadeiras do ‘Chemim’.
Acredito que ele tenha conseguido ter uma carreira muito bonita, nunca deixando de ter seus momentos de lazer, sempre fazendo amigos e lutando pelas causas que acredita.”
Com efeito, o magistrado João Luís Manassés de Albuquerque idealista por natureza, como vice-presidente (2003) e último presidente (2004) do Tribunal de Alçada, foi um dos artífices da fusão com o Tribunal de Justiça alcançada nesse ano com a Emenda Constitucional 45. Eleito também 2º. vice-presidente do Tribunal de Justiça no biênio 2009/2010. Aposentou-se compulsoriamente aos setenta anos em 19 de julho de 2010, sem completar esse mandato.
Muito trabalhador pautou toda sua carreira pela excelente produtividade. Em meados dos anos noventa, nós Juízes Substitutos em 2º. Grau trabalhávamos numa grande sala do Palácio da Justiça onde funcionava o Tribunal de Alçada, contando somente com um telefone e quem conseguia tinha uma estagiária e, devido as difíceis condições de trabalho muitos trabalhavam em casa. Mensalmente era publicada lista de produtividade, sempre encabeçada pelo colega Manassés, por mais que todos se esforçassem em suplantá-lo. Tempos depois descobrimos seu segredo – contava com o auxílio de dois acadêmicos de direito – seus rebentos João e Luciano – posteriormente aprovados em concurso para a magistratura.
Significativas são as lembranças vividas no interior do Paraná pela Senhora Raevile Campos de Albuquerque, dedicada professora, casada em 1971 com o Juiz Substituto João Luís Manassés de Albuquerque.
“Recém casados, fomos morar na cidade de Cascavel, sede da Seção Judiciária que compreendia a comarca sede e as comarcas de Guaraniaçu, Toledo, Formosa D’Oeste, Assis Chateaubriand e Marechal Candido Rondon, colonizada pelos Gaúchos, que também ocuparam as terras das comarcas de Matelândia, Medianeira e Capanema, integrantes da Seção Judiciária de Foz do Iguaçu, onde João Luís várias vezes foi designado para responder. Nessa época, com exceção da rodovia 277, as demais estradas eram de terra pura, veículos só transitavam com correntes nos pneus na época de chuvas, ficando por vezes presos em atoleiros.
De outra sorte, a gentil acolhida dos Juízes e Promotores, e das suas famílias: Dr. Jamil Lourenço, Dr. Hélio Enor Engelhardt, Dr. João Batista Cobe e Dr. Danilo de Lima, este merecedor de destaque especial, extraordinário Promotor de Justiça, implacável na aplicação da lei e de outro lado grande defensor dos oprimidos. Nosso compadre, padrinho do João Manassés Filho. Dos serventuários, nossa eterna boa lembrança da amiga Aracy Tanaka Biazetto.
Em 1974, Carlópolis, terras colonizadas por Paulistas e Mineiros. Primeira comarca como titular. Saindo do oeste paranaense, aportamos no norte pioneiro. Maravilhosa acolhida. Povo amigo. Fui muito bem recebida na Escola Hercília de Paula e Silva, em que tive a honra de lecionar por dois anos.
Participamos ativamente na vida comunitária, coma reestruturação do Clube Social Primavera, resultado da soma de esforços das famílias e do Poder Público Municipal. Meu marido Manassés foi presidente de honra desse Clube Primavera e do Clube Caravela. Convivemos com queridas pessoas: Alfeu e Zélia Barbosa, Dejalma e Ana Sales, Domingos (Prefeito Municipal).
1977-1978, Rebouças, compreendendo também o município de Rio Azul. Reduto do caboclo interiorano, das benzedeiras herdeiras do monge João Maria, povo bom, matreiro, recatado e inteligente. É o puro paranaense. Desfrutamos de boas e sinceras amizades. igualmente com muita honra lecionei por dois anos na Escola Estadual Luiz Cezar
1979-1980, novamente em Cascavel, agora meu marido promovido para entrância intermediária. Voltei a lecionar no Grupo Escolar Ébano Pereira. Luciano estudou no Colégio Santa Maria e João Luiz na Casinha Feliz.
1981-1984, Palmas. Cidade mais fria do Paraná, Conhecemos a neve, com 10º. graus abaixo de zero. Os canos congelaram no dia 25 de agosto, aniversário do caçula João. Fogão de lenha aceso dia e noite. Sofremos com a enchente de 1983, estávamos de férias na capital. Nossos amigos salvaram os nossos móveis. Os meninos tiveram ótima formação educacional, moral e religiosa no Colégio Puríssimo Coração de Maria. Trabalhei na Inspetoria Regional de Ensino, onde tive a oportunidade de firmas boas e sinceras amizades. nessa época fundou-se o Clube da Justiça de Palmas, construído em área cedida pelo município, com sede de alvenaria, churrasqueiras, cancha poliesportiva e campo de futebol com iluminação. Fato marcante foi a pulgação pela Zona Eleitoral de Palmas a nível dos primeiros resultados da apuração das urnas nas eleições nacionais de 1982.”
Aproveito o ensejo para registrar que o popular Domingão Prefeito de Carlópolis nos idos de 1974, é o sogro do conceituado advogado de Ibaiti mais conhecido por Betão, e é o avô do magistrado Rodrigo Otávio Rodrigues Gomes do Amaral, atualmente juiz auxiliar do presidente do Tribunal de Justiça. O filho mais novo, João Luiz, contou a respeito do seu genitor Desembargador Manassés:
“Tive a feliz oportunidade de estagiar voluntariamente junto a 1ª. Vara de Família de Curitiba, quando ele foi removido do interior para tal vara na capital e eu estava no início da faculdade. Esse momento foi muito especial para ambos. Para mim, além de ali começar a acompanhar o dia-a-dia do judiciário, pude confirmar a admiração profissional que sempre tive por meu pai.
Sempre prezou pelo julgamento justo e equânime, sensível às questões sociais, ciente da complexidade das relações humanas e atento às pessoas. Seus ensinamentos são decisivos nas escolhas de meus rumos, o tendo como referência maior como homem e magistrado. E espero ter a sorte de poder passar a seus netos o seu exemplo”.
Luciano, assim como João Luiz, contraíram matrimônio com funcionárias concursadas do Tribunal de Alçada, Claudete e Maria Fernanda, respectivamente, e deram quatro netos ao distinto casal Desembargador João Luís Manassés de Albuquerque e Professora Raevile Campos de Albuquerque.
Sobre Claudete, recém bacharelada em direito e cursando a Escola da Magistratura, me foi indicada pela servidora Cinara Cristina Bassetti Habith, e estagiou voluntariamente no ano de 1997 em meu gabinete de juiz substituto de 2º. grau, prestando relevante auxílio nessa difícil época de inexistência de assessoria.
Por Desembargador Robson Marques Cury